Velocista Incansável

Com passagens por vários clubes do estado, o atacante Ernani Charuto viveu sua melhor fase no América, pelo qual foi campeão mineiro em 1957. Sete anos depois, repetiu o feito pelo Siderúrgica, no último título antes da era Mineirão. E no clube de Sabará pendurou as chuteiras, em 1966.
Na edição de 6 de novembro de 1984, o Estado de Minas anunciava a morte do antigo jogador, de infarto, no Hospital Militar: “Clube está de luto. Morreu Ernani”. Na época, Ernani Olímpio, natural de Ponte Nova (15/12/1932), trabalhava como chefe de almoxarifado do Coelho. Ele foi sepultado no próprio dia 6, no Cemitério da Saudade.
“Ernani Charuto não foi um craque, um estilista, mas sempre foi um grande ídolo em razão de sua notável raça, sua determinação em campo, a grande aplicação tática e o amor à camisa dos times que defendeu”, disse o texto do EM. O apelido surgiu no início da carreira, em 1955, no América, por ele ser forte, baixo e ter pernas grossas.
“Não havia técnico que prescindisse de seu incansável trabalho dentro de campo. Sem ser um supercraque, Ernani praticava para sua época um estilo moderno, de constante vai e vem e ajuda ao meio-campo quando necessário. Era um excelente cobrador de faltas, pela violência do chute. Sabia centrar para a grande área como poucos em sua época”, descrevia o jornal. Um dos técnicos que mais trabalharam com o atacante foi Yustrich, que o levou tanto para o América quanto para o Siderúrgica.
Ernani começou aos 15 anos, no Ana Florense, de Ponte Nova, como meia-direita. Levado para o Metalusina pelo técnico Barbatana, acabou transformado em ponta por Airton Moreira. E só reclamou da dificuldade que passou a ter de fazer gols. Em momento de crise do clube de Barão de Cocais, Yustrich o levou para o América. De sua passagem pelo Coelho, além do título de 1957, Ernani sempre se lembrava da excursão de mais de três meses por gramados europeus, no fim do ano anterior. “Graças ao futebol, pude conhecer um mundo tão bonito como o que vi lá na Europa”, dizia.
CHANCE NO GALO - Em 1959, retornou ao Metalusina para disputar o Torneio Eliminatório do Campeonato Mineiro, mas a equipe não conseguiu se classificar. Ernani, no entanto, não ficou sem jogar. Aos 27 anos, foi contratado pelo Atlético, numa emergência, para substituir o ídolo Ubaldo, contundido. O Galo disputaria, em 25 de outubro, a segunda partida contra o Grêmio pelas semifinais da Taça Brasil, no Olímpico, depois de ser goleado por 4 a 1, no Independência, uma semana antes.
O alvinegro foi derrotado novamente (1 a 0), mas Ernani agradou, ao acertar dois chutes na trave. O Estado de Minas, em 30 de outubro, publicou reportagem com o novo atacante atleticano, tendo como título: “ ‘Provarei a muita gente que não estou acabado para o futebol’–- Satisfeito o extrema Ernani em envergar a camiseta do Atlético”.
Segundo o jornal, “…em Porto Alegre, mesmo realizando apenas um contato com os novos companheiros, ele deu seu grande espírito de luta, transformando-se na mais destacada figura do ataque atleticano (…) É páreo difícil para qualquer jovem de 16 anos, pois ‘com meu fôlego de gato até hoje não encontrei quem me superasse na corrida’”.
Naquele dia 30, o atacante marcaria seu primeiro gol com a camisa do Galo, em amistoso com o Siderúrgica, que terminou 3 a 3, no campo da Colônia de Férias do Sesc Sylla Velloso, em Venda Nova, em comemoração ao Dia do Comerciário. Foi dele o último gol. “Incansável e lutador, Ernani deu novo alento à ofensiva alvinegra, conseguindo, por outro lado, favorecer a estrutura da retaguarda”, elogiava o EM, em 1º de novembro.
O jogador reviveria seus momentos de glória em 1964, no Siderúrgica. Yustrich, que tinha indicado sua contratação, formou um ataque com dois pontas bem ao estilo de que gostava, Ernani e Tião. Do time campeão, era o único que já tinha provado o gosto de um título mineiro.
Nos anos 1980, o América lançava o ponta-direita Adílson, filho do antigo atacante. Apelidado de Charutinho, teve algum destaque no próprio Coelho e, posteriormente, no futebol catarinense, com a camisa de Avaí e Criciúma (campeão da Copa do Brasil de 1991). Chamado em Santa Catarina de Adílson Gomes, ele morreu precocemente.
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Fonte: Jornal Estado de Minas de 03/11/2010, texto de Eugênio Moreira.